Nuno Sousa-Oliveira de Todos Os Santos não tinha saboreado o primeiro sopro de ar que o seus esgotados pulmões imploravam, depois de vinte intermináveis horas de parto, quando a sua mãe afadigáva-se em amamentar-lhe.
Todos os vizinhos acudiram com muita curiosidade para ver aquela maravilha da natureza que com o seus oitos kilos, parecia mais a reencarnação de Buda que uma criança parida numa casa pobre da pós-guerra.
Três longos anos manteve-lhe a sua mãe prisioneiro nas suas úberes não querendo partilhá-lo com ninguém.
—É meu e so meu —vozeava ela como uma possuída no pátio do vizinhos. O seu único objetivo na vida, desde então, era transformá-lo num leitão para a sua deleite e exposição na vizinhança.
— Vejam o meu filho! Eu criei-o com os meus peitos sem sopas de farinha nem de alhos. O meu filho será uma celebridade, alguém muito famoso —ela dizia a quantas mulheres apareciam na sua casa.
Cerca de quarenta anos leva Nuno Sousa-Oliveira de Todos Os Santos pelas estradas de Deus, carregando uma obesidade angustiante, clandestina e pérfida. Quase uma vida inteira. Mas o pior de tudo é quando a sua mãe o visita e diz-lhe:
—Filho, estás muito piorado!. O que é que te dão de comer no Circo?
Revista «Chat» (EOI), nº 12 – 2019
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